Design: Manual de Intenções

06 outubro 2006

Existe em cada ser humano a semente do gosto por cada área da vida, e a diferença surge apenas no que cada um faz desabrochar; qualquer barreira existente no entendimento do Mundo, parte antes de mais nada, de uma predisposição pessoal para explorar e experimentar o inexplorado. A tendência crescente é para homogeneizar os gostos, os tactos, os gestos, os saberes, a falta de imaginação, despoetizar a vida…

São poucos já os que sentem o tacto, e se deixam envolver pelos conhecimentos que ele comunica, sendo atentos à sua simplicidade. Este encontra-se condenado a uma espécie de conhecimento sensorial de uma nova geração originado a nível neural, e óptico. Somos aceleradamente levados pela curiosidade, e pela insatisfação – a que tão bem nos conduz a actual sociedade de consumo – a procurar extravagâncias sensitivas, sensações radicais, que estimulam para além da pele, do paladar, do cheiro, do som, e que supostamente satisfazem, até ao próximo cumular da necessidade de algo novo.

A experiência envolve imaginação; tudo no sentir é ligado em simbiose profunda, e a actualidade tende a comprometer esse equilíbrio. Quando um projecto é desenvolvido com o gosto pelo que se faz, com a responsabilidade sobre as consequências que o mesmo acarretam, e com a profunda certeza da sua utilidade, quer a nível físico, como psicológico e social, existe uma maior probabilidade de um bom trabalho ser desenvolvido.

O papel do designer passa um pouco pelo não deixar morrer essa memória sensorial, que milénios demorou a acumular, na nossa consciência global. É necessária uma responsabilidade perante aquilo que se elabora, e as suas consequências reflectidas nas pessoas, no meio ambiente, no progresso; há que haver uma atitude pedagógica, que estimula a pessoa mais simples a deliciar-se com os hábitos rituais do quotidiano, através de objectos e ideias que ajudem o atravessar da vida em harmonia.

A produção industrial deveria deixar de ser usada com a desculpa do mal necessário; querer que todas as pessoas tenham em casa objectos iguais, e que os utilizem com a mesma regularidade, limita o indivíduo, restringe-o a ser igual aos outros, sem o benefício da sua própria criatividade, seja em que área for.

Talvez o verdadeiro objecto de design seja aquele que consegue ser inovador na sua dinâmica, por levar a uma participação activa do consumidor, inclusivamente no processo de criação, de forma a gerar-se um produto verdadeiramente individualizado.

A corrente que considero mais harmoniosa é a tende para uma concepção mais “humana”, em simbiose com a Natureza, que fornece ao consumidor informações úteis, educando-o, e mesmo introduzindo-o às novas tecnologias, de uma forma original; o fundamental é encontrar soluções perante problemas banais, que contribuam para a melhoria da qualidade de vida, tendo-se em conta o contexto ambiental e a fomentação da imaginação e criatividade do público.

“O ser humano é uma criatura de hábitos”, mas desde os primórdios que evolui e aprende através do risco. Cabe ao designer a fértil tarefa de estimular a imprevisível, a hilariante, a harmonioso, a ancestral, a fenomenal criatividade com que a Humanidade foi abençoada!

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