A Morte e o Design: o toque...

15 novembro 2006

Experimentei mergulhar numa cerimónia do chá... sentir o volume do líquido percorrer a garganta.. sentir o arrepio do quente que toma o corpo.. Beber chá é algo que podemos fazer todos os dias, a toda a hora... mas qual o seu significado?

Existem uma série de actividades diárias, rotinas que se sucedem umas às outras, e que com a repetição vão cansando o espírito..

O espírito vejo-o como a um órgão sensível.. é sensível aos estímulos do quotidiano, enquanto para eles olharmos com concentração... mas o espírito também adormece facilmente, quando nos entregamos à rotina, e deixamos ligado o piloto automático, nas nossas vidas.

Mas quando bebemos o chá num ritual, a banalidade é subtraída à densidade aquosa, e cada gota representa um estado de perfeição atingido, ainda que idealmente, transportando o espírito ao domínio do ser completo, daquele ser que sabe também que não é... Os rituais são poços de profundidade que permitem encher a nossa vida de pequenos nadas, que completam os ‘tudos’, e lhes dão sentido..

A Morte é uma incógnita envolta em rituais, porque perante ela só um estado de respeito é possível.. no entanto ela acarreta em si uma possibilidade... um estado de alquimia que permite que os diversos corpos que transportamos, na nossa reaprendizagem, se regenerem, se reencontrem com a sua essência, e que encontrem desta forma, energias plausíveis de representar um início... um novo ciclo, que tem a beleza das páginas em branco, da possibilidade de um risco sair solto, livre, com espaço para seguir um caminho sólido, mas subtil..

Esta temática traz consigo a mais intrigante e estimulante faceta da criatividade humana; as construções mais elaboradas do espírito são tecidas em seu torno, desenvolvendo-se um rol de conjunturas, que pretendem atenuar o habitual medo do desconhecido. O homem perante aquilo que desconhece age, irracional.. perde-se num berço, e numa procura de segurança.
(2000)

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